Um baile “bão à bessa!”

(Crônica publicada no Jornal Spasso, de Itaúna, em 26/7/1997)

“Sábado de sol, arrumei um caminhão, pra buscar a galera...”, iihhh, não é nada disso, estou com saudade dos “Mamonas”, o brega mais chique dos últimos anos. Por falar em ‘breguice’, um professor meu disse-me um dia que tudo depende do ângulo de visão. Exemplifico: gostar do Roberto Carlos, Mamonas Assassinas, ir a uma seresta, é brega para meia dúzia, mas pode ser chique para a outra metade da dúzia, entendeu? Haja vista a multidão que acorreu à Praça da Matriz de Itaúna durante a apresentação do “Minas ao Luar”. Já saracotear, tentar ser alguém imitando os modismos americanos é brega para muita gente, mas parece ser chique aos olhos de outros. Pois bem, fiquemos cá com a nossa breguice, deixemos lá a chiqueza dos outros – quase virou chiqueiro rsrsrs – que o assunto que aqui me traz é outro.

Aqui estou para falar do baile para o qual fui convidado ilustre, visto que à época presidia um partido político, e estávamos em disputa de eleição, portanto não poderia faltar ao evento. Dentre as “finalidades” do baile estavam: comemorar aniversário de uma garotinha e aproveitar para pedir votos para os candidatos da nossa coligação. Tribuna política e diversão em um só evento. Unidas a “fome” e a “vontade de comer”.

Em lá chegando, o primeiro sinal foi de que não deveria ter ido. A casa onde aconteceria o baile situava-se em um buraco cercado por barrancos nos quatro lados, sendo o acesso por uma escadaria de uns quarenta ou mais degraus morro acima e/ou abaixo, dependendo se você estava chegando ou saindo...  Eu chegava, então, desci. Já na porta, uma moça bastante simpática me sorriu, como que a me dar as boas-vindas. Que sorriso lindo, que dentes perfeitos... todos os três...

Num canto, a mesa posta: bolachas, capetinhas, pastéis, frios e gordurosos (fritos em banha Coqueiro), Q-Suco de groselha e um latão de caipirinha, feita à base de cachaça de R$ 1 o garrafão, açúcar, limão, com um "cadinho" de água da bica que é para não inchar o pé. Como eu, às vezes e em ocasiões especiais e não especiais, me movo à álcool, pensei bem e decidi: aaahhhhh, vá lá, tomo isso mesmo. E bebi logo três canecas, para ter do que reclamar no dia seguinte. A não ser um gostinho de ferrugem, causado pela concha com a qual serviam a beberagem, até que não era tão ruim assim, como o descrito.

Por ali fiquei, entremeando canecas de caipirinha com capetinhas (uma fatia de queijo, uma de pimentão, outra de cenoura, uma tira de salame e uma azeitona espetada na ponta do palito, tudo ‘dormido’ no vinagre), até que chegássemos ao momento do “parabéns para você”, discursos e após, eu pretendia me retirar.

Puxei conversa, ou melhor, tentei, com uma moça, mas ela tentou falar a primeira palavra e entendi que era gaga. Tentei encurtar a conversa e chamei ela para dançar, e a moça gastou quase meia hora para explicar que não podia porque era noiva e o seu noivo era muito ci-cici-u-meentoo e fo-fo-fooorrrte-te!

Eis que, para minha sorte – pelo menos era o que eu pensei na hora, mas depois vi que me enganei – chegou para me puxar para um canto, um candidato a vereador. De cara, ele saiu-se com esta:

- Ô Sérgio Cunha, eu quero, se eleito for, fazer uma gestação (sic) para marcar a história de Itaúna. Vou dar emprego, muito emprego, resolver os ‘pobrema’ tudo, tirar as subida das rua, ajudar o Celserino (que tinha essa ideia como meta) a trazer o mar pra cá, ajudar os pobre... Cê vai vê... (Dizem deste candidato que, respondendo a um repórter sobre suas propostas, quando se tornasse edil, ele falou que “propostas tenho muitas, mas esse negócio de me chamar de edil, de mudar meu nome, eu num quero não kkkkkkkkkk)

A conversa rendia e eu enfastiado com a prosa daquele político que, além de tudo, enchia meu ouvido de cuspe. Falava e cuspia, cuspia ao falar... No dia seguinte retirei quase que meio ‘capetinha’ do meu aparelho auditivo. Aí, surgiu a anfitriã, para me salvar, dizendo que uma cunhada sua gostaria de dançar comigo. Imaginando ser a morena da maior supimpitude que havia visto há pouco, fui, quase correndo, para aceitar a dança.  Ela me mandou esperar, foi e voltou daí uns minutinhos, com um sorriso meio sacana, trazendo uma senhora já entrada em anos, medindo pouco mais de 1,40 de altura...

Cavalheiro que sou, não tive escapatória. Fui à dança. Peguei a baixinha pelo ombro mesmo e fui para o meio da sala. De repente notei que só nós, eu e a baixinha, dançávamos. Também, não era para menos: eu, com meus 90 e poucos quilos, um e setenta e quatro de altura, enlaçando pela cintura a mini-dama... ela com o nariz cutucando pouco acima do  meu umbigo, volteando pela sala ao som de “Fuscão Prêeetooo”, do Almir Rogério. Imaginem a cena.

Eu lá, olhando nos olhos de todo mundo, sem ter onde me esconder... E ela, a dama, fungando no meu umbigo. Que falta me fizeram uns gases... seria tragicômico. E terminava a música, começava outra. De Almir Rogério para Odair José e dali, Amado Batista, e a baixinha não me largava. Aquele nariz, pontiagudo, frio, me cutucando o umbigo, já incomodava. Então veio um menino sardento para me salvar. O sardento, bastante encapetado, para minha alegria, cutucou uma caixa de marimbondos no canto da sala, jogando-a ao chão e libertando os insetos que passaram a ferroar quem encontravam pela frente. Até a minha dama de valseio foi atacada, levando uma ferroada bem naquele nariz que tanto me incomodou.

Foi um ai-ai-ai-ui-ui-ui danado. Lá fora o povão se acotovelando, subindo esbaforido pela escada e, muitos, barranco acima. Eu que não sou bobo nestas horas, saí primeiro, subindo os degraus de três em três, acossado que estava pelo marimbondo que me seguia.

À salvo, sentei-me na beira da estrada, aguardando uma carona para voltar à cidade. Analisei o ocorrido e me sobrou uma certeza: aquele foi um baile bão à beça!!!

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