Um Sonho
Esse texto foi escrito em 1990. Marta fixou os olhos no teto, na tentativa de se concentrar em alguma coisa enquanto aquele corpo masculino movimentava-se sobre ela, arfando, gemendo... como um porco na derradeira hora. Imediatamente lhe vieram as lembranças que ela tanto queria esquecer: um homem baixo, gordo, a lhe dominar, jogando-a ao chão, rasgando-lhe as roupas e, finalmente, a possuindo a-ni-ma-les-ca-men-te... e depois as ameaças, o nojo, o vômito.. Marta fora dispensada do emprego poucos dias depois pela esposa de “seu” Almeida, como era conhecido aquele... tarado. Isso mesmo, aquele tarado! - Imagina, uma negrinha dessas se engraçando com o meu Almeida, homem íntegro, que até ajuda o padre na missa?, dissera a ex-patroa, justificando a demissão. Novamente Marta sentiu nojo. Num gesto brusco se livrou do corpo que estava sobre ela e, chorando, juntou suas coisas – alguns trapos e um pouco de dinheiro. Saiu dali correndo, sem a mínima vontade de olhar para trá...