Lá vem o chifrudo... o peladão!
Tem gente que após beber um pouco além da conta é capaz das maiores proezas. Uns enveredam pelos tortuosos caminhos da prática da ‘asneira’ (de asno, animal quadrúpede, reconhecidamente incapaz de raciocínio lógico... isso te lembra atitudes de alguns grupos de ativistas políticos? Rsrsrsrsrs). Bom, mas o caso aqui é só o que a bebedeira leva alguns maganos a fazerem que contando, não se acredita. Vamos então ao caso, não sem antes repetir o que está dito aí acima: algumas pessoas, após ingerir quantidade acima da sua quota, de líquido etílico, sai do normal e comete asneiras dignas de bater continência pra pneu, de comer ração com o cãozinho de estimação, na mesma vasilha e falando que ele, o cão, é o único amigo da sua vida, ou coisas do tipo. Mas teve um caso de um conhecido que foi além.
Dizem que tem tonto de todo jeito e que comete besteiras de toda monta. Que tem o tonto bacana, aquele tonto engraçado e tem o tonto chato. Falando em chato, quem é de Itaúna vai lembrar de uma lista e de quanta gente faltou nela... Mas tem coisa que tonto faz, que a gente não esquece, sejam quantos anos tenham se passado.
E é sobre uma situação destas, ocorrida lá pela primeira metade da década de 1970, que vou tratar aqui. Trabalhava eu em um jornal de Seven Lake City, nossa queridíssima Sete Lagoas, ali no caminho do Norte de Minas e entroncamento do Vale do Jequitinhonha, quando um colega, que adorava serenatas, estava nos preparativos para se casar.
Ele, de nome... bem, deixa pra lá... era apaixonado pela noiva, Nágela. E tinha
muitos motivos: morena, olhos verdes, cabelos pretos, lisos, escorridos até o
ombro, pernas grossas, cintura fina, a nos matar de desejos escondidos e não confessados, quando chegava na roda em seus tamancos e minissaia, chamando o nosso
colega de 'meu amor', toda dengosa...
Ele, se derretia todo ao vê-la. Só tinha olhos e pensamentos para a noiva. Não enxergava outra mulher, mesmo que a dita cuja se insinuasse a ele. Era Nágela na terra e nenhuma mais. Quando ela não estava, já na madrugada, após o fechamento da edição e íamos a um boteco próximo tomar umas cervejas, meu colega não tinha outro assunto que não fosse planejar sua vida futura, com a linda Nágela.
E alimentava os sonhos da vida de
casado com a Nágela, ao som de Agnaldo Rayol (que nos deixou nesta semana),
cantando a versão de “The House of the Rising Sun”, da banda ‘The Animals’, que
se tornou “A Casa dos Meus Sonhos”... E ele ouvia a canção, em inglês, uma,
duas, três, quatro vezes, depois repetia a dose na versão em português e tome
Agnaldo cantando “a casa dos meus sonhos/ é feita de ilusão/ e vive sempre
cheia de amor/ de amor e solidão...” e aí ele sorvia doses e mais doses de vodca,
sua bebida predileta. E os dias iam se passando e a data do casamento se
aproximando.
Na semana que antecedeu ao casório, meu colega não cabia em si de ansiedade. Segunda, não dormiu. Terça, também não. Na quarta, fechando a edição do meio de semana ele estava como um zumbi, de tanta ansiedade. Acabamos o jornal lá pelas duas horas da madrugada. Ele foi com a gente tomar umas cervejas, bebeu umas duas doses de vodca, e disse que ia amanhecer na casa da noiva, para vê-la, matar a vontade de renovar o seu amor pela Nágela, pois no sábado acabaria a espera e eles passariam à vida em comum, “para todo o sempre, amém!”
Dito isto, lá se foi ele, lépido, rumo
à casa da amada. Quatro da madrugada, mas não aguentava esperar. Ia amanhecer
na porta da casa da Nágela, acordá-la às sete, tomar café com ela, olhar seu
rosto angelical, beijar sua boca e ajudar nas tarefas da manhã, pois após o
almoço era dia de acertar os últimos detalhes do casório.
Chegando em frente à casa da Nágela, notou que a porta estava só encostada. Será que ela esqueceu de fechar a porta? Ou seria um convite para ele entrar, sabendo já que ele iria, tamanha a ansiedade? Entrou, ouviu algum barulho, la no quarto da amada, e foi andando de-va-ga-ri-nho, para fazer a ela uma surpresa.
Chegou em frente à porta e a surpresa foi dele: olhou de olhos arregalados e viu a sua amada, nua em pelo, de cinta-liga e chicote nas mãos... A sua beleza toda, realçada pela iluminação de uma luminária no canto do quarto.
A nudez de Nágela a tornava ainda mais
bela, nudez devassa aquela, da sua noiva que dava uma surra em um mulato, muito
conhecido do noivo. E não era surra de chicote, apenas um adereço da
brincadeira, que parecia divertir muito o rapaz. Era surra de sexo, traiçoeiro, lascivo,
pecaminoso. Ao noivo restou um grito seco, um uivo e um lamento: “aiaiai,
uiuiui, que disgrameira, meu Deus!” e saiu em desabalada carreira rua afora...
Casamento desfeito, choro, muito choro, choro ainda... xingamentos, todos os palavrões que ele conhecia e muita mágoa.
Ele voltou a trabalhar e nunca mais falou em Nágela. Parou até de beber, por uns dias. Não falava quase, sempre pelos cantos, taciturno, macambúzio, sorumbático e todos os sinônimos possíveis a descrever um homem sem vontade de seguir vivendo...
Era muito amor que foi destruído, diziam os amigos e nós, colegas de trabalho, sabíamos um pouco disso. E tentávamos reanimá-lo, convidando-o às nossas rodas de cerveja e samba, mas nada.
Mas um dia ele foi. Disse que ia tomar só uma cerveja. Tomou aquela, tomou outra, pediu uma vodca, outra, outra, outra, outra... e aí, foi lá na oficina do jornal, que era bem perto, pegou o toca-fitas portátil e colocou a fita com a canção “The House of the Rising Sun”, com “The Animals”.
Depois, “A Casa dos Meus Sonhos”, com Agnaldo Rayol, e acabou a garrafa de vodca e ele abriu outra. E, bêbado, chorando, começou a rasgar as suas roupas, a camisa, a calça, a cueca, tirou os sapatos, gritando “por que, Nágela? Por que?” e saiu correndo pela rua afora, repetindo a pergunta.
Uns três meses depois, voltou ao trabalho e nada mais falava sobre o assunto. Mas não podia passar perto de uns meninos da vizinhança que ouvia “lá vem o chifrudo... o peladão!”
Aí, parou de beber.
Muito triste....mas muito engraçado!....A princípio eu quis chorar...mas no fim acabei foi rindo demais.....Tadinho....🤣😥🤣😥🤣
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