Enganado pela piscada que não passava de sestro da moça
Então, era metade da década de 1970, lá pelos idos de 1974/10975 e eu, jovem metido a belo mancebo, conquistador, me encontrava em viagem com os irmãos Silézio (o
mais velho) e Sílvio (imediatamente depois de mim). A cidade onde estávamos era
a bela Sete Lagoas, mais popular para os ‘descolados’ como Seven Lake City,
porque afinal das contas, brasileiro gosta de “estrangeirar as coisas”. A
cidade de Sete Lagoas fica ali, no caminho do Norte de Minas, região onde
grassam belas moças, morenas. E nós, jovens de então, não perdíamos a oportunidade
de admirar a beleza daquelas morenas sempre que as avistávamos por onde estivéssemos.
E em Sete lagoas não foi diferente. Enquanto aguardávamos o horário de embarcar no ônibus de volta a
Belo Horizonte, na antiga rodoviária setelagoana, resolvemos tomar um
refrigerante no bar do local.
Em lá estando, avistamos uma bela
morena, no outro lado do salão, parece que acompanhada da mãe. Ali ficamos
admirando a donzela, moça morena, como disse, bonita, atraente e, que
nos havia notado também. Dos três irmãos, eu o mais saliente, comecei a tentar
flertar com a mocinha. Olhava pra ela para tentar detectar algum sinal de
aquiescência ao cortejo. E eis que a vi piscar um olho em minha direção.
Entusiasmei. Contei o fato a meus irmãos e continuei. Silézio e Sílvio também
viram a moça piscar, uma outra vez. Me incentivaram a ir adiante. Outra
piscadela e era sinal de que a mocinha realmente se encantara comigo e estava
me dando o sinal positivo para a aproximação.
Levantei do assento onde estava e
fui caminhando passos firmes, todo dono da situação, em direção à mocinha. Ela
ainda deu mais uma piscadinha. Era a chave que me faltava para abordá-la, saber
seu nome, quem sabe conseguir o número do telefone da sua casa, ou endereço, para
enviar uma carta, pois até então nem sabíamos que existiria no futuro um tal de
telefone celular... Fui indo, firme, confiante, certeiro...
Cheguei a três, quatro passos da
moça. Meu coração saltitava de ansiedade, batia descompassado como um sambista
aprendiz dedilhando no pandeiro. E aí, parou! Um segundo, talvez dois, que
pareceram uma eternidade. Vi o rosto completo da moça, era bonito, sim, como a
silhueta vista ao longe antecipara. Os olhos, ah... aqueles olhos acastanhados,
emoldurados pelos cílios compridos, me mostraram o grande engano que tive, no
afã de conquistador imberbe anos 70...
Ela não piscara para mim, mas por
causa de uma mania, um sestro, um cacoete de fechar os dois olhos e apertá-los por segundos,
que visto de lado, à distância, parecia estar piscando. Passei direto para não cometer outra
gafe, fingi que ia ao banheiro. Entrei, fui à pia, lavei o rosto com água fria
para me devolver a cor que havia fugido ante o desapontamento que me invadira
momentos atrás.
Ao retornar à mesa onde estavam meus irmãos ainda fui alvo de muita zoação, muita pilhéria, muita brincadeira, ou aquilo que os rapazes atuais chamariam de ‘bullying’.
Eita Seven Lake City
que me deixou muitas lembranças boas e várias delas muito engraçadas, como esta
da mocinha que eu achei que piscava para mim e na verdade ela só dava vazão a
uma mania, um cacoete... Mas, ela era bonita, ah isso era.
Comentários
Postar um comentário