Propôs “dormir com a cigana” e teve que cumprir com a proposta...
Estava relembrando histórias ouvidas
sobre alguns episódios que podem ter acontecido, ou não, lá na pedra preta,
lugarejo onde grassam marmanjos de bigode e que se acham os bonitões... Aí me
lembrei de daquele caso que me contaram uns nativos. E aí vai: ele era alto,
esguio, cabelo seguro à cabeça por muita “Glostora” e aquele bigodinho fino por
sobre o beiço, à “cheira peido”, como diziam os mais antigos que nós outros. Chamavam
ele de “galanteador da pedra preta”, dado à sua postura de se achar o
bam-bam-bam do pedaço. E explicando, a tal da “Glostora” aí de cima, era uma espécie
de brilhantina (fixador) que os vaidosos de antigamente usavam para manter o cabelo bem
penteado sobre o couro cabeludo.
Pois então, o danado do cidadão acima
descrito, se achava ‘o bonitão’, capaz de conquistar a todas as moçoilas que
pela cidadezinha andavam, inclusive as ciganas mais moças, que estavam
acampadas em um terreno próximo da margem do rio. E, como se sentia o fiscal do
espaço público daquela cidade, o conquistador não se cansava de incomodar os
ciganos, exigindo que eles deixassem o local onde estavam acampados. Coisa de
gente chata, mesmo, só para incomodar os ciganos.
E nas idas ao acampamento dos
ciganos, para cobrar deles a retirada, viu um dia uma moça muito bonita. Ciganinha
bonita aquela. Chamava a atenção aonde chegava, pela beleza dos traços, pelo
jeitinho inocente, pelos contornos do corpo... E não é que o conquistador, o ‘bonitão’
quis se engraçar por ela? E, na primeira oportunidade que conseguiu se
aproximar da mocinha, fez a proposta:
- “Quanto que você quer para
dormir comigo?”
A mocinha ruborizada, vermelhinha
de raiva, saiu dali e foi direto contar ao pai sobre a proposta do galanteador
de meia pataca:
- Painho, sabe aquele velho,
bigodinho tingido, cabelo besuntado de “Glostora” que vem aqui todo dia falar
que a gente tem que deixar a cidade, levantar acampamento?, perguntou ela ao pai
que era chefe dos ciganos.
- Sei sim, filhinha. O que tem
ele?, respondeu o pai.
- Pois é, painho. Ele perguntou
quanto eu quero pra dormir com ele? Safado, tem cabimento uma coisa dessas?
Aí, o pai, que não era chefe dos
ciganos à toa, matutou logo uma maneira de se vingar daquele homem que queria
se lambuzar com a sua filhinha, moça de família e que tinha o pai e mais cinco
irmãos homens para defender-lhe a honra. E o safado ainda era casado, pai de vários
filhos, já... não ia se safar tão facilmente. Então, já sabendo o que deveria
fazer, disse para a filha:
- Aceita. Vai lá e fala com ele
que quer dois contos, marca o lugar de encontrar e deixa o resto por minha
conta, disse o pai. E assim foi feito. A ciganinha foi lá, avisou que aceitava
a proposta “por dois contos” e que esperava o galanteador no final da tarde, “debaixo
daquele pé de ingá, na curva do rio, tá bom?”
- Tá sim, combinado. Eu vou lá,
logo, logo, no final da tarde, viu, belezinha?, disse o bigodinho “cheira peido”,
à ciganinha.
- Não esquece dos dois contos,
viu?, recomendou a ciganinha.
E nem bem deu quatro e meia da tarde,
lá estava o cidadão, com as notas de dinheiro na mão e o apetite libidinoso escorrendo-lhe pela cara safada. Dizem que ele, naquele dia, tomou até banho, passou perfume,
escovou os dentes, alisou o bigodinho umas dez vezes, botou mais “Glostora” no
cabelo e mandou avisar em casa, à esposa, que ia demorar um pouco a voltar,
pois tinha ‘umas coisas importantes para resolver’. Ela até podia jantar sem
ele, com os meninos, avisou.
Em lá chegando, no local indicado,
embaixo do pé de ingá, estava a mocinha, linda, já de roupa de dormir... “ah, a
safadinha gostou, e se fazendo de santinha...” pensou o “galanteador da pedra
preta” (vamos denominá-lo, assim, daqui por diante). E ele foi até a moça, já
ávido para lhe tirar a vestimenta e visualizar aquele corpinho lindo, com o
qual ele até sonhou acordado a tarde toda. Apressou o passo e, quando chegava a
uns três, quatro metros da moça, apareceram-lhe à frente, os cinco irmãos da
ciganinha e o pai da moça. Armados até os dentes, com revólver, escopeta,
carabina e uma meia dúzia de punhais reluzentes.
O “galanteador da pedra preta”
gelou. E nem teve tempo de correr, quando o pai da ciganinha deu as ordens: “cerca
esse vagabundo e não deixa ele escapar!” E já foi logo perguntando: “trouxe os
dois contos?”
Tremendo igual a vara verde, o “galanteador
da pedra preta” entregou o dinheiro e recebeu a ordem humilhante: “cê pagou,
então deita aí, e dorme com a minha filhinha. Mas é dormir, viu? Se encostar
nela eu te pico todo e jogo pros cachorro comer...” e já foi logo mandando
estender um colchão embaixo do pé de ingá. A mocinha se deitou, como se fosse
mesmo dormir ali, segurando o riso ao ver que a calça do “galanteador” estava
já toda mijada...
O homem teve que se deitar ao lado da ciganinha, sem tocar nela, como determinou o pai da moça. E ali ficaram, até lá pelas nove da noite. Vigiados pelos cinco irmãos e o pai da moça, armados como se fossem para uma guerra.
O “galanteador da pedra preta”, rezando para não dar vontade nos
ciganos, de apertar o gatilho de uma das muitas armas, ou de usar um dos
punhais reluzentes. Depois da refrega, com o dinheiro no bolso, o pai da
ciganinha deu outra ordem: “agora suma daqui, safado, antes que eu desista de
te deixar ir embora sem levar uns tiros”.
O “galanteador da pedra preta”, “varapau
do bigodinho cheira peido” – como era chamado por alguns nativos – saiu dali em
desabalada carreira, sem olhar para trás, talvez para não ver a mosquitada que
já lhe rondava as nádegas carregadas do medo pelo qual passara instantes antes.
Dizem até que, bem mais distante, teve que se lavar no rio, para não chegar em
casa borrado... e nunca mais voltou ao acampamento dos ciganos.
Tudo porque não soube se
expressar direito, diria quele professor de redação rsrsrsrsrsrsrs
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