Somente a verdade... nada mais!
Como tarefa de escola – já que depois de muitos anos voltei para as salas de aula – foi-me passado trabalho de pesquisa sobre a ocorrência de namoros via Internet. Pois bem, fui a campo e encontrei casos engraçadíssimos, dignos de ocupar essas linhas. Porém, antigo em anos que sou, vou marrar-lhes aqui, caso de namoro ocorrido via telefone, lá por volta de 1985, pouco mais, pouco menos.
Falando em namoro, dia 12 de junho foi dia
de comemorar friozinho na barriga, palpitação, aceleração cardíaca e uma série
de outros sintomas que, fora desse período, leva os marmanjos e gatinhas direto
ao médico para “saber qual problema eu tenho”.
Cá, com nosso conhecimento de
medicina e amor, que nos leva a dar aulas quando solicitados, explicamos então
que aquilo que as pessoas pensam ser taquicardia, mal súbito do coração e dor
de barriga, nada mais são que expressão física de paixão. E temos dito, antes
que o Conselho Regional de Medicina nos acione por clinicar sem necessário
registro.
Fica, portanto o recado: antes de
correr ao consultório e pagar aquelas consultas caríssimas, o cidadão ou a
cidadã deve primeiro dar uma olhada em volta, consultar seus pensamentos e ver
se não se lhe acorre no momento alguma paixão repentina como conosco acontece,
mesmo após muitos anos de vida comum. É isso mesmo, todas as manhãs, acordo com
paixão repentina por aquela que me atura há tanto tempo, que é a minha Marli.
(Senhor patrão, essa declaração explícita de amor me é permitida em contrato
para a redação das crônicas, como incentivo salarial, visto que a grana foi
curta e não pude pagar anúncio para dizer que eu amo minha Marli, como já fiz
outrora. Fica registrada a declaração e esparramada para quantos essas linhas
lerem: eu amo minha mulher!). Dito isto, vamos à frente que aqui não é lugar de
fazer média com a esposa-namorada.
Pois bem, um conhecido meu, que militou
na área jornalística, tinha o costume de ligar, diariamente, para a telefonista
da Telemig (à época), solicitando informações. Assim, depois de algum tempo,
conseguiu formar com uma das telefonistas da empresa, que trabalhava em
Divinópolis, um relacionamento de certa intimidade. A partir daí, passava a
ligar também para conversar com a telefonista e, “Don Juan” que era, assediava
a moça com assiduidade. O relacionamento ia bem até que um dia veio do outro
lado da linha a proposta da moça, que se encantara com a voz e a inteligência
do meu amigo, para que os dois se encontrassem para que se conhecessem...
pes-so-al-men-te! Assim mesmo, com pausa, sugerindo uma relação mais íntima dos
dois. O convite foi aceito, data e o local foram marcados.
Meu amigo que, diferentemente do
assunto via telefone, era bastante tímido para o contato pessoal, solicitou-me
que o acompanhasse nesse momento. Lá fomos, eu e ele, a Divinópolis, encontrar
a futura namorada do meu amigo. Lá chegando, dirigimo-nos ao local do encontro aonde
chegamos com mais de uma hora de antecedência. Enquanto esperávamos, e por se
tratar de um bar, bebíamos, já que nós (digo, eu) não participaríamos da
conquista gratuitamente. Pelo menos um “vinhozinho” às expensas do meu amigo
haveria de sair.
No horário marcado, começamos a
observar todas as pessoas que entravam no bar. Depois de algum tempo, surgiu uma
morena, cabelos compridos, de minissaia, pernas torneadas e grossas, cintura
fina, boca carnuda, enfim, um “espetáculo”, trajando a roupa com que a
telefonista informara ao meu amigo que estaria vestida.
Ele não teve dúvidas. Levantou, sorridente, e caminhou em direção à garota, quando se apresentou. Era ela
mesma, a bela mulher era a telefonista que se encantara com meu amigo, pela voz
e inteligência...
Ao encerrar a apresentação, a
moça olhou meu amigo de cima a baixo, analisou detidamente o rapaz, reconfirmou
se tratar da pessoa que ela procurava e, aí... girou sobre os calcanhares e
saiu do bar em desabalada carreira.
Quase foi atropelada ao
atravessar a rua e entrar em um táxi do outro lado. Sumiu. Meu amigo,
entristecido, embriagou-se naquele dia como nunca antes eu o tinha visto fazer.
Voltamos a Itaúna.
Na semana seguinte, depois de eu
muito insistir, ele me passou o nome da telefonista, para quem eu liguei a fim
de saber o motivo da reação. Ela me falou que meu amigo se apresentara como
moreno, alto, olhos verdes e corpo atlético e se apresentara ao vivo e em
cores, baixo, gordo, banguela e caolho. “Pode uma coisa dessas”, desabafou...
“e ainda por cima, mentiroso”, sentenciou antes de desligar.
Portanto, voltando ao namoro via
Internet, fica o conselho único: fale somente a verdade, nada mais que a
verdade!
Publicada no Jornal Folha do
Povo, início dos anos 2000
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