Entalado com osso de galinha

                    Texto publicado no jornal FOLHA DO POVO, de Itaúna, início dos anos 2000

Cada um come o que quer e como quer. Mas tem uns e outros que têm mania de comer “coisa  diferente”. Conheço um cidadão que gosta de “bundinha de tanajura” ao molho madeira. Outro, não passa um mês sem deglutir uma rã ao molho vermelho. Tem até um outro que adora comer “filé de cascavel” ao molho curry. 

Acho até que o 'molho' é para enganar o paladar e fazer com que a gororoba desça o mais palatável possível. Mas, vamos e venhamos, aficionado em roer ossos, em não sendo canídeo, só este texticulista que se lhes apresenta e um rapaz que conheci lá para os lados do Norte de Minas.

Este texticulista explica o ‘apetecimento’ a osso por entender que o tutano é alimento da maior importância e, com o osso bem cozido, molinho... nada melhor que alimentar-se do tutano, até porque nos dá mais glóbulos vermelhos, como explicou um amigo “quase” formado em medicina, o que seria assim, um “médico pirata”. Opa, “pirata” não, “alternativo!”.

Pois é, mas como o caso em foco é sobre o rapaz que eu conheci em um boteco nas proximidades de Francisco Sá, ali, logo depois de Montes Claros, para quem vai daqui pra lá, vamos à história. Ele, agricultor dos bons, fim de tarde, gostava de ir a um boteco naquela cidade, onde ficava até meados da noite, por volta de 22, 23 horas, bebericando uma cachacinha, acompanhada da loira gelada que tanto bem faz à bexiga – também é medicação constante da receita do amigo “quase” médico. Para tira-gosto, frango cozido, que ele devorava até o último pedacinho de osso.

E nessa vida ele passava os dias da semana. No sábado, bebia a tarde toda. Só saía do boteco na hora de ir à casa de uma senhora, muito bem-casada com um fazendeiro das redondezas que tinha a mania de, faça sol, faça chuva, amanhecer o domingo no terreiro de sua fazenda. Para tanto, viajava sempre no sábado à tardinha, quase noite já, voltando no domingo por volta de 12, 13 horas para o almoço com sua “dona”. 

Ela, moça da cidade, não era dada a essas coisas de roça. O marido ia, o rapaz chegava... Não vou aqui escrever nomes, pois vamos que essa FOLHA chegue lá praquelas bandas?... Vamos evitar, né caros ledores e caras ledoras. Só digo que o rapaz atenndia pelo nome de Zé ...., bom... deixa pra lá.

E era assim todo final de semana. Sábado, o rapaz esperava o fazendeiro virar a curva na estrada e acelerava o passo rumo à sua casa – do fazendeiro – onde namorava a noite toda, saindo só pela manhãzinha. Muita gente na cidade sabia do caso, mas ninguém se arriscava a dar com a língua nos dentes. Afinal, o problema é deles, eles é que cuidem dele (o problema). Alguns amigos avisavam o rapaz que “se o dr. ficar sabendo do seu caso, você é homem morto!”. “Que nada, ele não vai descobrir nunca, mesmo que descubra, dele não tenho medo”, respondia sempre.

Um certo dia, já por volta das 18 horas, entra no bar, com jeito de poucos amigos, o fazendeiro. O rapaz, encostado no balcão, acabara de tomar uma “talagada” de cachaça e levou um pedaço de frango à boca. O fazendeiro bateu no balcão e pediu “uma cachaça, dupla, que hoje eu tô danado!” e virou-se para o rapaz, olhando-lhe nos olhos, quando fez a seguinte pergunta: - “você conhece aqui um tal de Zé ....?”. 

Foi a conta. O rapaz perdeu a cor, tonteou e caiu. Os presentes correram a lhe socorrer. Acode daqui, assopra dali, abana de lá, traz arnica, esfrega álcool no pulso, desabotoa a camisa... Uns quinze minutos depois ele foi recobrando os sentidos.

O fazendeiro, sem entender o que estava acontecendo, falou para o dono do bar:

- “O que deu no rapaz? Eu só queria saber se ele conhecia o Zé ...., porque me disseram que ele é muito bom de serviço e eu tô precisando lá na roça dum cabra assim, pois um meu funcionário adoeceu e o serviço tá atrasado...”.

- “Nada não, o rapaz só ficou entalado com um osso de frango, mas tá tudo bem. Tem um outro rapaz ali, no final da rua, que também é muito bom de trabalho e está até precisando de uns bicos”, desconversou o dono do bar que sabia do caso amoroso de seu freguês “entalado”.

Enquanto isso, o Zé, que era o dito cujo que o fazendeiro procurava, foi recuperando a cor, aos poucos. Dizem que ele mudou da cidade e nunca mais foi à casa do fazendeiro, e parou de comer osso de frango...

 

 


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