Fixação em carros velhos (2): "A Belina repintada com tinta Suvinil"

Em resposta aos curiosos sobre o fim que levou o Corcel do meu pai, informo que um belo dia, sem auxiliar de direção, iluminação e buzina, depois de tomar umas e outras mais, meu pai adentrou um córrego, onde foi dar de beber aos 'cavalos do motor', sedentos, coitados... De lá, só saiu para o desmanche.

Continuando com o assunto dos carros velhos e a mania que algumas pessoas têm em possuí-los, veio-me à lembrança um caso que me foi contado sobre uma ida de alguns amigos a Angicos – um pacato lugarejo no município de Carmo do Cajuru, muito frequentado pelos itaunenses –, quando de uma festa naquela localidade. 

Consta que um rapaz, que não vamos dizer o nome para não complicá-lo, resolveu levar a turma de amigos – três, ao todo – até aquela localidade, de carro. E que o “carro”, era uma Belina com data de fabricação “por volta de setenta e poucos”.

Saíram de Itaúna, na tal Belina, já com o propósito de deixá-la escondida em um sítio nas redondezas, para que as meninas dos Angicos não vissem a “situação do automóvel”, o que as afugentaria, na certa. Tudo certo, assim fizeram. 

Durante a festa, os amigos entabularam assunto com algumas garotas, o que seria normal, visto que são todos rapazes bem-apanhados, inteligentes e bonitos, e tudo ia bem até que o proprietário do veículo, entusiasmado, resolveu buscar a Belina “pra dar umas voltas por aí com as gatas!”.

Nada adiantou a tentativa dos amigos em demovê-lo da infeliz ideia. Lá foi ele e, daí a pouco, surge na estrada do Angicos um poeirão danado e um ronco de motor que lembrava muito um caminhão.

Apareceu, então, a Belina, rebaixada de um lado, sem parte do para-brisas dianteiro, o para-choque amarrado com “corda de bacalhau”, os bancos pulando mais do que pipoca, um farol do lado esquerdo aceso...

Mas não ficou só nisso. Para impressionar, o feliz proprietário da Belina quis dar uma brecada ‘de estilo’, o que fez o veículo derrapar por mais de 100 metros com seus pneus carecas.

Depois que a poeira abaixou, o rapaz tentou sair do veículo. Qual não foi a surpresa dos presentes, quando a porta do lado do motorista caiu e teve início um pequeno incêndio no motor.

De alavanca de marcha e volante nas  mãos, o motorista da Belina  saiu em disparada atrás de uma lata d´água que foi o suficiente para apagar as chamas.

Depois de algum tempo, a aglomeração que se formou em torno do veículo foi sendo dissolvida e lá ficou apenas o dono da Belina, pois seus amigos não quiseram “pagar o mico” junto com ele...

No dia seguinte, o rapaz mandou buscar a Belina em Angicos, trazida ao centro de Itaúna puxada por uma carroça.

Hoje, a Belina continua transitando pelas ruas da cidade, pintada de novo com tinta Suvinil e “uma mão de zarcão para tirar a ferrugem”, afirma vaidoso o proprietário “da relíquia”.

 

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