Apenas um tchau!

Pela ordem, os cinco irmãos homens: Marcelo, Márcio Reinaldo, Silézio, Sérgio e o Sílvio.



Esse texto é uma maneira que encontrei, de homenagear meu irmão, Sílvio Fernandes da Cunha, que nos deixou na segunda-feira, 23 de outubro de 2023, aos 61 anos. É também o registro do que ele sempre representou para nós, eu, Minha Marli e nosso filho, Silézio.  

Hoje o meu texto não é de humor, é de amor, amor fraterno. De despedida de uma pessoa que viveu 61 anos e que me deu o prazer de ser meu irmão. Sílvio Fernandes da Cunha, o Silvinho, que para muitos era “meio ignorante”, “bruto”, mas na verdade era amor em excesso nas coisas que fazia, pensava... Era teimoso, sim, ignorante, nunca. Suas lembranças me fazem vê-lo ainda a chamar a filha mais velha, a Silvinha (ô Sílvia!!!), com um grito, e em seguida dizer calmamente, “traz um copo de água para o papai, filhinha”, naquele quase gesto de carinho com a primogênita.

O humor desse meu irmão era insuperável. Ele enfrentou tratamento médico por vários anos, rindo da situação, fazendo troça de momentos de sufoco, como quando começou a se submeter à diálise e em visita na sua casa ele me disse: “Serginho (que era como ele me chamava) estou traindo a Cláudia!” Levei um susto, porque ele e Cláudia viviam um para o outro há tantos anos, várias décadas... mas aí ele completou: “com uma máquina, a máquina de hemodiálise lá da Baleia fica agarradinha comigo umas seis horas por dia, três vezes por semana”. Foi assim que ele se referiu ao tratamento tão agressivo que é a hemodiálise. Acho que essas brincadeiras dele eram mesmo o melhor caminho para o enfrentamento da doença, que o castigava, mas que ele contornava com as piadas, com as brincadeiras, com bom humor. Era mais forte que a doença.

Pai de duas filhas, Sílvia e Keila, e avô da Eduarda, a “Dudu”, que herdou o carinho do Sílvio para com as pessoas mais próximas. Vivia para elas, para a esposa, Cláudia, e para os irmãos, sobrinhos, primos, tio e cunhados. Seus momentos de ira, às vezes, era cobrando atitudes dos entes que ele tanto amava, ou na defesa deles. Alguns casos retratam bem como ele era passional, sim. Em um dia em que um time de futsal que a gente tinha, onde atuavam os três irmãos mais velhos, ele no gol, na retaguarda, envolveu-se em uma confusão. O mano mais velho estava para ser agredido por atletas do time adversário e ele atravessou a quadra, como um raio, e acertou o brigão mais afoito, com uma pancada que o derrubou na hora. Acabou com a briga, pois “ninguém coloca a mão no Silézio”, gritava ele aos adversários.

E do mesmo jeito, por exemplo, no seu propósito de cuidar, ele recebeu meu filho, quando este ainda adolescente, foi à capital, visitá-lo. Meu filho, no centro da cidade e ele ligando, querendo saber os passos que ele dava, até chegar à sua casa, no Bonfim. Enquanto meu filho não ultrapassou o portão, ele não sossegou. Era assim, cuidado máximo para com os seus. E era assim também, quando ainda jovem ajudava minha mãe a cuidar dos irmãos mais novos. Com Márcio Reinaldo, seu afilhado, e Márcia, um pouco mais, mas sempre presente quando todos os irmãos precisavam dele. Marcelo, Cibele, Cidália, além dos dois mais velhos que ele, o primogênito do casal Neusa e Sebastião, Silézio; e eu.

Meu irmão, apenas dois anos mais novo que eu, assumia a dianteira quando se tratava de cuidar de qualquer um dos membros da nossa família. E olha que temos família grande: oito irmãos, com cunhados e cunhadas, sobrinhos, filhos, tios, primos... Todos cabiam na sua proposta de “tomar conta”. E ficava muito bravo se alguém ou alguma coisa ameaçava qualquer de nós. Talvez essa ‘brutalidade’, que alguns enxergavam no Sílvio, fosse esse cuidado excessivo que ele sempre demonstrou.

É esse cara, de um coração enorme, de amor em excesso pelos seus, que foi lá para cima, na segunda-feira, 23 de outubro, conversar com Deus, intercedendo por todos nós, tenho certeza, pois cuidar era sua vida e será, no outro plano, também.

É sobre essa pessoa, que provoca risos na gente, quando nos falamos ao telefone, ou quando, em casa, 'do nada' a gente brinca, relembrando suas tiradas, como quando se feria em uma ação qualquer, como bater o dedão do pé em uma porta: "fi-da-pu-ta... tá do-en-do!' E depois sair caminhando como se nada tivesse acontecido.

Silvinho, um coração maior do que ele. Amigo, irmão, protetor da família... 

Vendo fotografias que registram momentos dos “filhos da Dona Neusa”, como costumamos nos denominar, quase sempre estou ao seu lado. Está sendo muito triste saber que não o teremos mais aqui, com seu humor sensacional, com seu jeito de encarar as coisas, com seu amor imenso por todos nós. Fica com Deus, Sílvio. Nossa despedida, aqui na terra, foi só um tchau!



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Solón pensa que eu sou burro?

As fotografias do “fantasma do coronel”

Propôs “dormir com a cigana” e teve que cumprir com a proposta...