O bom(?) de bola
Cá na nossa terrinha, qualquer
jogadorzinho de futebol “meia-sola”, está ganhando mais que um operário de
ponta. É até ridículo ouvir falar do salário de um Ronaldinho, por exemplo, em
um País onde o salário-mínimo é de 151 reais. E essa distorção de valores tem
formado idiotas aos montes em nosso País. É cômico assistir a uma entrevista
desses “astros do futebol”, ou mesmo aos “grandes valores” da música brasileira
na atualidade, como aqueles chatos, componentes do grupo “Bonde do Tigrão”.
Jogar bola ou cantar baboseiras
no Brasil, hoje, vale mais que estudar medicina, astrofísica ou mecatrônica, só
para citar três cursos universitários que exigem do candidato conhecimento
“zilhões” de vezes superior a um “pagodeiro da vida”, como diz um amigo meu.
Deve ser por esse motivo que, aqui na ‘Pedra Preta’ não é necessário completar
uma sentença inteira para ser chamado jornalista... E tem mais: “doutor” é
título dado a quem ocupa uma posição acima dos simples mortais, mesmo que o
recebedor do título pouco saiba sobre os trâmites e etapas para se chegar a um
doutorado. Tem “doutor”, “jornalista” e “professor de futebol” por demais
inundando nossos dias. E explico, aqui, a inclusão do “professor...”: vocês já
ouviram alguma entrevista com jogador de futebol quando ele precisa falar sobre
o técnico. É sempre a mesma coisa: “nós vai(sic) cumprir as determinação(sic)
do professor...”.
Bem, o assunto de hoje é futebol,
mas não é para eu esculhambar com a proliferação de algumas “raças” somente
encontradiças onde grassam puxa-sacos de montão. Nosso caso é sobre um cidadão
que teimava em jogar bola, mesmo sem ter conhecimento de quantos lados a bola
têm. Falando em não saber dos lados da bola, encontrei dia desses com o Dr.
Gerson (que me lembra a figura esférica), na Praça da Matriz e ele foi logo
pedindo para eu avisar ao Murilo que ele (Gerson) está “de regime”, novamente.
Com certeza, está com saudades da feijoada do Uni-Duni-Tê. Falar nesse
estabelecimento comercial, o Renilton perguntou “qual ligação tem a primeira
sílaba do nome do estabelecimento com o local onde Murilinho está ganhando a
vida ultimamente?”. Não soube responder. Renilton sabe...
Mas o caso é outro. O tal
pretenso jogador de futebol era um cunhado meu, dos tempos de BH. Eu, meus
irmãos, meu pai, um tio, primos e alguns amigos formamos um time de futebol,
com dois quadros (1º e 2º), quando disputávamos o futebol de várzea da capital.
Nosso time até que praticava um futebolzinho razoável. Temos muitas vitórias
“no balaio”, sem esquecer de derrotas que nunca nos deixavam tristes, pois o
que importava era estar em campo, correndo atrás da redonda e, depois,
refrescando-nos em torno de uma mesa repleta de garrafas de cerveja, sempre
vazias, pois não éramos de esperar o líquido esquentar.
A escalação do time era quase que
uma distribuição de funções na família. Jogávamos na mesma equipe, eu, meu pai,
dois irmãos, um primo, um tio e um compadre. E, como o negócio era entre
família, meu irmão mais velho dirigia o 2º quadro e meu pai o 1º quadro. Então,
namorador que era, arrumei uma namorada e, consequentemente, vários cunhados,
pois a família da moça era grande. Dentre eles, um que se gabava de jogar
futebol muito bem. Tanto falou de suas qualidades como jogador que, para
agradar a namorada e fazer uma graça para a sogra, convidei o tal cunhado para
jogar no “nosso time”. Ele aceitou.
No domingo seguinte, tínhamos
jogo marcado e meu irmão prometeu escalar o “jogador” no 2º quadro, para ver se
ele seria aprovado. No sábado, dei-lhe a notícia e, no domingo, lá estava ele,
de chuteira nova, meião novo, caneleira e um andar típico dos craques. Feita a
preleção, meu irmão entregou ao “craque” a camisa dez. A camisa mais importante
do time. No primeiro quadro era ele, meu irmão, quem jogava com a dez. Ele
fazia questão de só entregar a camisa para “o melhor jogador do time”. A camisa
10 tem que ser honrada, ela é do Rei Pelé, dizia ele para valorizar a camisa e,
certamente, para valorizar também o seu futebol que, diga-se de passagem, não
ficava nada a dever a muitos craques da atualidade.
Começou o jogo. Dez minutos, e
meu cunhado não havia sequer encostado na bola. Trinta minutos e ele havia dado
dois passes errados e um chute para fora. Acabou o primeiro tempo e ele ficou
só nisso. No intervalo, levou uma bronca do meu irmão e falou que estava se
adaptando ao esquema de jogo, mas que no segundo tempo ia brilhar. Passou os
primeiros 42 minutos da segunda etapa sem tocar na bola. Parecia até que a
“redonda” corria dele. Se o nosso time atacava, ele estava na defesa. Se éramos
atacados, ele estava no ataque. Em momento algum, nem mesmo na hora da cobrança
de um lateral, ele chegou perto da bola. Aí, aconteceu um escanteio a nosso
favor. Meu irmão, tentando fazer com que o “craque” pegasse na bola, mandou que
ele cobrasse o escanteio.
Ele foi. Ajeitou a bola, bateu a
poeira do calção, deu uma puxada na camisa para ajeitá-la no corpo, correu e...
aconteceu o inesperado. Na hora de chutar a bola, ele levou o pé esquerdo à
frente e ao acionar o pé direto, acertou seu próprio calcanhar. Levou um tombo
cinematográfico. Pior, acertou a bola com as mãos. O juiz apitou a falta contra
nossa equipe. Final do jogo pouco depois. Perdemos por um a zero.
O cunhado? Ah... só deu notícias
na semana seguinte, quando uma vizinha dele foi a minha casa, entregar o
uniforme do time, junto com os presentes que eu havia dado à irmã dele, minha
ex-namorada, a partir daquele dia.
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