Será assim?

Texto produzido em 1989, em contraponto às notícias daquele momento no País, quando se disputava uma eleição presidencial.

Lá longe os sinos batem, cá perto a barriga ronca, num desespero de encontrar um alimento. Esse talvez seja o Natal de muitas pessoas por esse Brasil afora. Vejo na tevê o candidato a presidente prometer um país colorido, e imagino como seriam espalhadas as cores: branco de fome, roxo de dor, amarelo... de susto!

Na foto do Papai-Noel, seu saco está cheio e me pergunto: será de presentes?

A Sadia anuncia um prato delicioso, o Chester. Que isso? Nem o que é, sabemos, mas comprar, tenho certeza de que não poderemos.

No alto brilha uma estrela, mas não é a de Belém, é lá de Garanhuns, para tentar colocar um operário no comando. No rádio, ouço a música da Xuxa dizendo “todo mundo tá feliz!”... tá?

“Um papai-noel de brinde, na compra de um televisor”... e se não comprar, leva o Papai-Noel?

E por falar no barbudo, não o da estrela, nem o da cruz... como esse velhinho entrou na história? 

Um amigo meu disse que é criação dos comerciantes, para vender mais. Não seria mais fácil pagar melhores salários para os trabalhadores?, perguntou ele...

Coincidência ou não, dia 25 é o aniversário do barbudo que nos ensinou tudo (pena que não aprendemos), quando se utilizam de um barbudo para vender suas mercadorias e, ao mesmo tempo, pedem para não votar em um barbudo... Você pode me explicar esse problema das barbas?

E as ofertas de Natal? São de dar água na boca – não os preços...

Deveriam mandá-las para o Nordeste, pois aí ninguém morreria de sede.

Pois é, de Natal não falei nada. Ou falei?

Então, me explica aí o que é Natal?

Seria isso tudo que estamos vendo? 

Gente morrendo de fome, ódio se espalhando pelo mundo, a necessidade que temos sempre, de alguma coisa e... as propagandas nos dizendo que é maravilhoso morar em uma cobertura da Vieira Souto, comprar um ‘Monza’ último tipo, um diamante para a sua amada, um microcomputador para o seu filho, pernil, vinho francês, champanhe, nozes, castanha, ouro, peixe, armas... pão?

Não, para mim isso tudo é fruto da mentalidade atrasada do ser racional, sem raciocínio, que só vê a necessidade material de se enriquecer e ter poder e se esquece do sentimento, da vida, da religião...

Estou sendo pessimista, pode estar julgando você, mas a utopia de ver tudo colorido já foi exercida por muitos eleitores, no primeiro turno e, Natal não é eleição, sendo mais real a meu ver, que uma proposta de mudança governamental, até porque os generais mandavam e o Natal estava aí.

E, se formos caminhar para este lado, sonharia com um Natal mais humano, mais amigo, com todos podendo viver o lado material e sentimental com profundidade, podendo desejar Feliz Natal do fundo do coração.

Quem sabe a estrela (a de Belém) possa mudar tudo isso, num passe de mágica, e vivermos momentos lindos...

No mais, na busca de um conto para ver se conseguia alguns “contos”, me satisfaço com a oportunidade que tenho de te desejar um Feliz Natal, não o real que aqui coloquei, mas o utópico, com que todos nós sonhamos... 

Será assim?


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