A culpa é desse tempo doido...

O texto desta semana é uma observação feita sobre as ações de cada um no dia a dia e a transferência da culpa pelos problemas com que nos defrontamos.


Ele se levantou cedo, olhou para o alto e viu que o sol já estava ‘a pino’, como gostam de dizer os mais antigos. Seria um dia quente, com certeza. Não eram nem seis horas e a luz do sol tomava conta de tudo. Olhou ao longe, no campo, e viu o pasto refletindo os raios solares. Lá longe, o horizonte já começava a “tremer”, como costuma ser em dias muito quentes por aqui, lembrou ele.

Foi rápido. Passou uma água no rosto, tomou um café forte, comeu um naco de pão-com-manteiga e saiu. Lá fora, já com as tralhas ajuntadas, subiu na boleia do caminhão e seguiu em direção à mata. 

Ufa, ainda nem começara o dia de trabalho e já estava suando. “Calor dos infernos”, praguejou, uma, duas vezes, durante o caminho de mais de cinco quilômetros que o caminhão percorreu pelo pasto da fazenda.

Chegando ao início da mata, armou-se de uma motosserra e começou a labuta. Ah, nisso ele era bom. Profissional dos mais competentes.

Era ‘uma máquina’ no trabalho, como diziam os amigos. Ao meio do dia, quando parou para o almoço já havia tombado uma dúzia de árvores. “Desgalhadas, cortadas em troncos de pouco mais de dois metros e meio – que era a medida pedida pelos compradores – tudo certinho”, comentou ele com um empregado que, vira, não tinha chegado ainda às dez árvores. 

“Muito mole, devagar demais”, pensou ele do colega.

Almoçou a marmita, esquentada nas brasas de um fogo aceso ali mesmo, em meio à mata. Descansou um pouco e voltou à labuta para a segunda metade do dia. Com a mesma destreza, a mesma eficiência de antes. Outra dúzia de árvores derrubadas, desgalhadas e cortadas em troncos de cerca de dois metros e meio. É, ele era mesmo muito eficiente no trabalho, orgulhou-se no fim do dia.

“E olha que fez um calorão danado, senão tinha sido ainda mais eficiente”, comentou ele ao se reunir com os colegas, no fim do expediente, para tomar a cervejinha de sempre, antes de voltar pra casa, na ‘venda do seu Tobias’, como conheciam o barzinho da beira de estrada. 

As toras de madeira seriam transportadas para uma madeireira, no dia seguinte. Era assim que ele ganhava a vida. Cortava as árvores em um dia e transportava os troncos em outro. Três dias por semana para cada tarefa. Domingo, descansava.

Era com esse trabalho que ele ia progredindo na vida. E, de onde retirava as árvores, plantava pasto para o gado que ia aumentando em número de cabeças, mês-a-mês, certificou-se, orgulhoso.

“Afinal, se não fosse esse tempo maluco, que uma hora faz um calor dos diabos, noutra hora chove tanto que parece que o mundo vai cair sobre nossas cabeças, e ainda tem o frio que, a cada ano é pior... Se não fosse isso, esse tempo maluco – repetiu – as coisas estariam bem melhores. Vontade de trabalhar é que não me falta!”, concluiu.

E assim, foi seguindo sua vida e se lamentando dos imprevistos do tempo...


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