Passando apuros em campanha eleitoral...
Como estamos nos aproximando da eleição que vai
apontar novos prefeito e vereadores, lembrei de um momento interessante que
vivi, atuando no marketing de uma campanha eleitoral, na cidade de Papagaios,
ali a meio caminho das cidades de Pará de Minas e Sete Lagoas, conhecida como a
‘capital da pedra de ardósia’ em Minas Gerais. E sem querer fazer trocadilho,
foi lá que enfrentamos uma ‘pedreira’, em 2008, para a escolha dos
administradores do mandato 2009/2012. Pois bem, fomos lá trabalhar com a
comunicação daquela campanha eleitoral, atuando em favor da dupla Marcelino da
Telma (prefeito) e Anu do Zé Taco (vice). Dupla de nomes curiosos, mas pessoas
da melhor qualidade.
Um dos principais desafios do trabalho foi a
produção do programa de rádio. Era a primeira vez que a campanha eleitoral em
Papagaios contaria com este recurso. Portanto, despertava muita curiosidade nos
quase dez mil eleitores de então. Ao recebermos as informações do tempo a ser
disponibilizado ao candidato, descobrimos que teríamos cerca de 11 minutos de
programa, o que em produção radiofônica é “uma eternidade...”, principalmente
na situação em que nos deparamos. O Marcelino, candidato a prefeito, não era
afeito a discursos. Pouco falava e se visse um microfone pela frente, ficava
mesmo era mudo. Era meio ‘caladão’, bastante firme na sua postura, mas de
poucas palavras, diziam seus amigos mais próximos. O Anu do Zé Taco, rapaz
ainda novo, trazia o lado juvenil para a campanha, mas assim como o Marcelino,
não se dava bem com microfones.
Assim, tivemos que elaborar um programa eleitoral
em que o espaço de fala dos candidatos seria pequeno, valorizando mais as
propostas, os projetos. Algumas falas dos candidatos, o mínimo possível, pois
não conseguíamos obter naturalidade em ambos, que demonstravam nas gravações
que discursos não eram o forte. Ações, propostas, projetos? Muitos. Falas?
Pouquíssimas. Com muito tempo e poucas opções, carregamos o texto nos
apresentadores – o radialista, que levamos de Itaúna, o Luigi Stéfano – e umas
participações de apoiadores, de amigos, para complementar o tempo. Mas ainda
era pouco. Aí surgiu meu lado ‘criativo’, forçado: propus um personagem que
assumiria as falas que seriam do candidato, em um verdadeiro chamamento ao
adversário, para o debate radiofônico. E surgiu o personagem conhecido como
“véio”, como diziam alguns, ou “velho”, como definimos, que se propunha ao
debate com o adversário, Mário Reis, político já experiente, com outros
mandatos anteriores e que administrou Papagaios por cinco vezes e que
naquele pleito disputava a reeleição. A proposta do ‘velho’, era porque ele
trazia a mensagem da experiência, da seriedade, mesmo em se tratando de um
personagem bem caricato. O “velho”, então, foi ao ar. E foi um sucesso. Eu, que
assumia a voz do personagem, colocava em debate temas importantes para a
cidade, pesquisados junto à população, e sempre carregando nas críticas contra
o prefeito que buscava a reeleição.
Com poucas semanas de campanha, o “velho” se tornou
referência nas conversas e, por incrível que pareça, as pessoas começaram a
imitar a sua voz, nos bares, rodas de conversas de amigos, pra todo lado, lá em
Papagaios. E eis que após um dia de gravação e logo depois de uma caminhada que
fizemos pela cidade, eu e o Moisés, o chefe da agência para a qual prestava
serviço, fomos tomar uma cerveja em um dos barzinhos da cidade. Nós lá, tomando
a cerveja e um grupo grande, em uma mesa próxima, com várias pessoas comentando
sobre as falas do “velho” no programa de rádio e vários deles tentando imitar o
tom de voz do personagem. Eu e Moisés ali, assistindo ao sucesso do nosso
trabalho. Mas, eis que o Moisés se entusiasmou e resolveu arriscar. Disse para
um dos componentes da mesa próxima, que parecia conduzir as conversas:
- Meu amigo aqui sabe imitar o ‘velho’, com
perfeição. E em seguida já foi falando para eu fazer a imitação. A princípio,
tive receios, não quis atender ao pedido, mas começaram a insistir e fui
convencido. Preparei uma fala, empostei a voz, e soltei a fala, na voz do “velho”.
E até aplaudiram a performance. Um dos membros da mesa disse, “nossa é
igualzinho”... “fala idêntico ao ‘velho’”, disse outro. E várias outras falas,
de espanto com a similaridade das vozes, surgiram.
O sujeito que coordenava a conversa na mesa ao lado
resolveu perguntar de onde éramos, o que fazíamos... e o Moisés disse que
“somos de fora, trabalhamos com jornalismo...” Pronto, estava dada a dica.
Imediatamente o homem se levantou e disse: “ele não está imitando, ele é o
‘velho’, que fala aquele monte de coisas do nosso prefeito”.
Isso mesmo, o grupo era contrário ao Marcelino da
Telma, correligionários do Mário Reis. E junto com o ‘chefe’ da turma, que era
um cara forte, outros três a quatro homens se levantaram, todos em posição de ameaça.
E o chefe da turma pôs a mão na cintura, como se tivesse ‘acariciando’ uma arma
e deu a sentença: “olha, se quiserem sair daqui na paz, vai ter que falar com a
voz do ‘velho’, metendo o pau no Marcelino!”
Demorei a me refazer do susto, cedi, pois era a
única coisa sensata a fazer, se não quisesse apanhar bastante, pois outros
amigos daqueles primeiros que se levantaram já nos rodeavam. E aí, o ‘velho’
teve que fazer um discurso a favor do Mário Reis e criticar bastante o
Marcelino. Acabava um trecho e aparecia logo um pedido, “fala que o Marcelino é
um bobão”, “diz aí que o Marcelino não sabe fazer nada...”. Depois de uma meia
hora de pressão, satisfeitos com a performance do ‘velho’ criticando o
Marcelino não deixaram nem a gente pagar a conta. Fomos embora dali rapidinho e
aliviados, ao final das contas. Ainda gravamos alguns outros programas com o
‘velho’, mas demos maior destaque aos projetos do Marcelino, pois vai que
poderíamos encontrar aquele pessoal de novo e não sei se seria “na paz”,
novamente. Ele, o nosso candidato, não ganhou em 2008, mas na campanha seguinte
não teve adversário, ganhou fácil e assumiu a prefeitura de papagaios em 2013.
E muitos eleitores afirmavam que votaram no Marcelino “a pedido do ‘velho’”,
mesmo que ele não tivesse feito a campanha daquele ano...
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