Aquele tornozelo... não deixe o ônibus partir!

Na hora em que ele foi subir os degraus do ônibus, viu um pé feminino, calçando um sapato, baixo, tipo sapatilha. Olhou mais adiante e viu o outro pé, acabando de subir o degrau. 

Admirou o tornozelo dela, moreno, esguio, apresentando o que imaginava ser uma perna linda. Olhou um pouco mais e chegou ao joelho da moça. Redondo, com alguns pelos minúsculos, reluzindo à luz do sol que iluminava aquela manhã.

Tentou ver um pouco mais, mas o ônibus já estava lotado e apenas conseguiu enxergar uma ponta do cabelo castanho daquela mulher. 

Tudo nela parecia lindo. A cor amarela do vestido, o tornozelo como ele nunca tinha admirado antes. Os pés, pequenos, calçando a sapatilha marrom escuro, com uma fivela cor de prata. 

E ele ficou ali, uns segundos, imaginando como seria a morena, sim ela era morena, pela cor do tornozelo que ele admirava...

De repente, uma pessoa veio atrás e o empurrou de lado: “fica esperto, cara, o ônibus já está saindo”. E passou à sua frente, entrando no veículo. E outro mais, e mais um. 

E o ônibus seguiu seu caminho e ele ficou ali, parado, sob o efeito de uns pés delicados, pequenos, em um sapato marrom. Tornozelos lindos, morenos, esguios... que foram naquele ônibus que ele acabara de perder.

No outro dia, voltou ao mesmo local, no mesmo horário, olhando os pés, os tornozelos de todas as mulheres que chegavam ali. Esperou um, dois ônibus, três, meia dúzia... e voltou ao mesmo ponto, vários dias. 

Um mês, dois, três... e nunca mais encontrou aqueles tornozelos que agora sobrevivem na sua memória. Alimentando o amor que ele sente ainda por aquela moça, que ele não viu o rosto, não sabe quem é, mas que ama desesperadamente. Sabe só que um dia vai voltar a encontrá-la e, então, não vai deixar o ônibus partir. 

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