No lugar errado, na hora errada
* Crônica publicada no jornal Folha do Povo, de Itaúna, na primeira década dos anos 2.000
Você meu caro leitor e minha nobilíssima leitora, já se sentiu alguma vez como se estivesse no lugar errado e na hora errada? Pois eu conheço alguns fatos que podem explicar a situação: um primo meu foi com minha avó ao Mineirão, assistir a um jogo entre Cruzeiro e Atlético.
Minha avó era cruzeirense, o primo, como a maioria de minha família, incluindo aí este escrevinhador, atleticano. Como a avó é que pagara os ingressos, o primo a acompanhou até a torcida do Cruzeiro. Lá chegando, olhou para o gramado e viu Reinaldo – o nosso eterno Rei – driblar um jogador do Cruzeiro, driblou o segundo, o terceiro, entrou na grande área e... como sempre, gol do Galo.
Ele não resistiu ante a beleza da jogada e gritou, pulou, cantou em homenagem ao gol, durante quase um minuto. Depois, olhou em volta e viu a cara dos cruzeirenses, cerca de uns 20 mil cidadãos, todos ávidos por um pedacinho do seu “escalpo”.
Não teve alternativa, fingiu-se de cego e foi saindo de fininho,
até chegar perto das escadarias, de onde saiu em desabalada carreira, não sem
antes levar uns cascudos nas partes pudentas anteriores – isto é, pontapés na
bunda.
Outro caso digno de registro, aconteceu com meu pai, e este nos contou: quando ele ainda moço, jogava conversa fora com uns rapazes perto de sua casa, na avenida Pedro Segundo, em BH. Lá estavam eles a prosear, contou-me, quando passou uma moça linda, pernas grossas, corpo exuberante. Não resistiu e fez um comentário “engraçadinho”.
Nem bem havia
terminado a frase, sentiu um cano de revólver encostado no seu rosto e um
vozeirão sentenciando: “repete o que você falou da minha irmã, se for homem!”.
Nem precisa dizer que meu pai explicou-lhe então que estava em fase de
“formação”, sendo ainda apenas um rapaz imberbe, portanto, sem definição ainda
de sua condição de “homem”, o que só confirmaria com o passar dos anos... E foi-se, todo borrado, pra casa...
Finalmente, e por ser o motivo principal desta crônica, tem o caso de um amigo que aventurou-se na carreira de vendedor de colchas. Ele, muito falante, procurava todos os argumentos possíveis para convencer as donas-de-casa a adquirirem seu “excelente produto”.
Certa vez, viajando pelos lados do Norte de Minas, vendia colchas como nunca quando, num certo dia, já por volta das quatro da tarde, com apenas uma peça, de casal, à venda, entrou em uma casa muito bonita, sendo atendido por uma senhora elegante, bastante simpática e, também, bonita.
Ele, apreciador do belo sexo, procurou com a desculpa da venda, conhecer mais a senhora. Usou de todas as argumentações para convencer a senhora a adquirir o produto, em parcelas – o que lhe daria motivos para voltar ao local outras vezes – e fez uma proposta final: “eu coloco a colcha na sua cama, a senhora fica com ela até manhã, aí eu volto e, com certeza, fecho a venda porque, produto igual a senhora não encontra”.
A senhora aceitou a oferta, levou-o ao quarto. Ele, prático, tirou a colcha que lá se encontrava sobre a cama, forrou-a com a sua e, num arroubo de sedutor, pediu à senhora que deitasse sobre a colcha, ou se cobrisse com ela, para ver “o quanto nosso produto é de boa qualidade”. A senhora aceitou.
Tirou os sapatos, aninhou-se na cama, cobriu-se com a colcha e ele fez aquele “ar” de satisfeito. Quando deu um passo para a frente, para “ajeitar esse lado da colcha, para ficar melhor...”, ouviu um barulho atrás de si. Gelou. Virou-se de-va-ga-ri-nho... e deu de cara com um senhor, cerca de um metro e oitenta e cinco, forte, com cara de poucos amigos que lhe fez uma pergunta: “o senhor pode me explicar o que está acontecendo? O senhor aqui, no meu quarto, com a minha mulher...”.
Não terminou a frase. Meu amigo atirou-se janela afora e
fugiu da cidade. Até hoje ele reclama da “boa venda que eu perdi”.
Comentários
Postar um comentário