Por que é preciso ter opinião?

 

Paulinho acordou cedo, tomou café e saiu para mais um dia de trabalho. Foi conferindo as mensagens no aparelho celular, enquanto se dirigia até a empresa. Mais ou menos uma hora e 20 minutos, da sua casa até o local de trabalho, daria tempo para responder todas elas, mesmo que o ônibus balançasse um pouco no trajeto. E assim foi ele, colocando em dia os seus contatos do final de semana. Sempre fazia assim. Deixava para responder as mensagens do final de semana, na segunda-feira. Sábado e domingo gostava de descansar, namorar um pouco, jogar futebol e até ler, coisa que sabia que a maioria dos colegas não fazia há um bom tempo.

Entre uma mensagem e outra, notou que algumas, algo em torno de 40% delas, tratavam do mesmo tema: política. Queriam saber dele, em quem votaria nas eleições de 2026. Não respondeu a nenhuma delas, pois não queria se indispor com os colegas e, também, achava que era ‘muito cedo’ para decidir em quem votar, ou em quem não votar. 

Na verdade, não tinha vontade de votar em nenhum dos nomes que os seus colegas apoiavam. Uns estavam com o candidato que se dizia “de direita”, outros optavam pelo candidato que se afirmava “de esquerda”. Ele, Paulinho, não acredita que nenhum dos candidatos tenha realmente uma firmeza ideológica e que apenas se colocavam de um lado e de outro do espectro ideológico, como forma de conquistar votos de simpatizantes.

Também acreditava que poderia surgir um outro candidato, quem sabe uma candidata, já que nos últimos anos aqueles mesmos políticos se revezavam na ocupação do poder no país e, na verdade, nada mudava realmente para a maioria do povo. Somente alguns grupos se beneficiavam e o grosso da população, pagava a conta, como sempre.

Assim, não respondeu em quem votaria. Foi para o trabalho. Na hora do almoço, conferiu as menagens dos e elas insistiam com os mesmos questionamentos. Ignorou, mais uma vez. De tarde, após fazer o caminho de volta, lá estavam elas, com os mesmos questionamentos. 

Mais uma vez, Paulinho as ignorou. Na terça-feira, a mesma coisa. Na quarta-feira, começou a receber ofensas, pois não respondia às perguntas sobre em quem votaria. O pessoal que apoiava o candidato “da direita” afirmava que ele não respondia “porque não tinha coragem de declarar que ia votar no corrupto”. 

Já a turma que apoiava o candidato “da esquerda”, entendia que não tinham respostas, porque ele, o Paulinho, “não tinha coragem de dizer que ia votar no ladrão, nazista...”

E aí ele resolveu responder às mensagens, esclarecendo que não votaria em nenhum dos dois nomes apresentados. Não adiantou. Aumentaram a carga nas ofensas e nas afirmações do porque ele, Paulinho, “não tinha coragem de assumir o seu voto!”

Aí, na quinta-feira, cedinho, quando ia para o trabalho, Paulinho colocou um fim naquela idiotice toda: bloqueou todos eles na sua conta de WhatsApp!

E é assim que muita gente, igual ao Paulinho está fazendo, só para ter o direito de não opinar sobre o que não quer ter opinião. Afinal, às vezes é possível que um tipo de assunto não nos interesse e,  por isto, não vamos querer dar opinião sobre ele. 

Simples assim.

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