Histórias de cães e outros bichos...

Texto publicado na FOLHA, no início dos anos 2000.


Tem gente que gosta de ter sempre uma “criação” em casa. Uns mais amorosos, realmente cuidam destes animais, dando-lhes condições de sobrevivência digna, às vezes até cercados de mordomias.

Outros, apesar de se intitularem 'proprietários' (ou tutores) destes bichinhos, os submetem à vida de esmolar um alimento, um pouco de água e por aí afora. Aqui neste buraco de página já falamos de casos de animais bem tratados, como é o caso do cão do ex-prefeito e ex-deputado, Hidelbrando Canabrava. Para quem não se lembra, o cãozinho do Bandinho – que aqui foi citado como sendo uma cadela – foi multado por não estar usando cinto de segurança em uma 'caminhada automobilística' que o ex-prefeito fazia por nossas ruas.

Pois bem, desta feita e a partir do próximo parágrafo, falaremos de alguns casos em que um animal é a personagem principal, mostrando o outro lado em algumas situações, quando o bichinho de estimação é largado à sua própria sorte e, com muita criatividade, tem que se virar para sobreviver. Às vezes, nem sobrevivem. Vamos lá então.

O Élcio e o Feitiço, lá do Serrado – também conhecido como “bucólico” – criavam um cachorro que atendia pelo nome de Jagunço. Cão magro, quase esquelético, rabo cortado, olhos tristes de vira-latas 'passa-fome', mas que na verdade era fruto de cruzamento de um Pastor Alemão com uma cadela da raça Fila.

Mais eis que o Élcio ganhou na loteria esportiva e não sabendo onde gastar tanto dinheiro, começou a torrar os cobres comprando cinco carros. Não sabia dirigir, mas também isso não importava. Contratou cinco motoristas. Continuando a gastança, passou a tratar do Jagunço só à base de hambúrgueres, os populares “X-Tudo”, vendidos em lanchonetes espalhados por Itaúna afora.

Jagunço encorpou. Ganhou peso, parecia cão de raça. Mas o dinheiro do Élcio, acabou... e os cuidados com o Jagunço, também.

Depois da vida de mordomias o cachorro não quis mais saber de angu e osso. Só se alimentava de “X-Tudo”.

Sem dinheiro, Élcio deixou o cão à mercê de sua própria sorte. A saída para Jagunço foi começar a frequentar os trailers de lanches da cidade. Quando via alguém comendo um hambúrguer, ficava roçando-lhe as pernas até que ganhasse um pedacinho de sanduíche. Com essa vida de pedinte, Jagunço começou a frequentar também as bocas-de-fumo.

Daí a fumar maconha, por tabela, foi um pulo. Triste fim daquele cachorro: morreu de overdose de maconha e complicações estomacais devido a um pedaço de sanduíche repleto de “salmonelas”.

Outro caso a ser narrado é o de um rapaz, conhecido por Bengala. Ele tinha um cachorro, chamado Rex. Tinha também o costume, assim como tantos outros cidadãos desta terra e de outras mais, de beber até não mais aguentar. Foi assim, bêbado, que ele um dia aventurou-se a separar uma briga do Rex com um outro vira-latas. 

Foi mordido pelo outro cão e aí, devolveu a mordida, desferindo uma dentada no danado do cachorro que brigava com o seu Rex... o cão agressor, morreu intoxicado!!!... 

Dizem que a mordida que o Bengala deu no cachorro foi fatal. “Veneno puro... era só etanol...”

Tem ainda a história do passarinho Papa-Capim, do Tenebra, que comia folha de maconha e cantava mais que todos os pássaros da região, até que foi pego num exame antidoping de um torneio de canto em Itaúna.

Outro caso engraçado aconteceu com um cachorro de propriedade do Gamela. Dizem que esse cão, ao saber que o seu dono teve uma caderneta de compras assinada como se fosse carteira de trabalho, fugiu de casa e nunca mais voltou...

Contei também o caso do galo da Heloísa Magalhães, roubado na calada da noite pelo Sebastian, em parceria com o filho da proprietária do galináceo. 

Levado para Araxá, onde ficou uma temporada, o galo voltou morto e limpo, servindo-nos de repasto em noite memorável, feito na pele, acompanhado de arroz branco. A receita ficou famosa. Mais ainda, o galo que aqui foi enfocado, sem dizer dos xingamentos da Heloísa que só após degustar a iguaria tomou conhecimento de que, além da ave, ficou também sem um toco que decorava seu jardim, usado pelo Sebastian para cozinhar o galo.

E tem também o caso de outro Rex, de propriedade de um pai ciumento de uma moçoila muito bonita que morava ali pelas bandas do Bairro de Lourdes, em Itaúna.

Eis que a moça começou a namorar com um rapaz – coisa que não se vê mais, hoje em dia, rsrsrsrsrs – e o levou (o rapaz) até sua casa (casa da moça), para conhecer a família dela.

O rapaz, antes de ir à casa da moça, tomou umas três cervejas e comeu feijoada com os colegas naquele boteco ali, na pracinha da Avenida Dorinato Lima. Depois, subiu a rua e foi lá, conhecer o sogro, sogra e cunhados. 

Bem recebido, foi sentar-se em um banco na varanda, onde travou bate-papo com o sogro. O sogrão, boa praça, ofereceu uma cerveja e foi até a geladeira, buscar os copos e a cerveja supergelada. O rapaz aproveitou e soltou um pum, silencioso, mas daqueles bem fedorentos.

Para despistar, olhou o cachorro que estava deitado ali perto e disse em voz alta: “sai Rex! Sai...” Assim, pensou que, se quando o sogro voltasse ainda pairasse o mau odor, pensaria que fora o cachorro. E assim, quando o sogro foi buscar outra cervejinha, novo pum e, de novo: “saaiiii Reex!”.

Na terceira oportunidade, quando o pai da moça foi lá buscar mais uma cerveja, de novo um pum e, novamente, acusando o cachorro: “saaaiiiii Reeeexxxx!!!”

Aí o sogrão não aquentou, chegou a cabeça na janela da cozinha e determinou ao cachorro: “sai daí Rex, senão esse porco caga em você!”

Dizem que o rapaz agora mora no Centenário, depois da vergonha passada, já que ele não podia sair à rua que logo um dos meninos do bairro gritava: “sai Rex, senão ele caga nocê!!!”

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