Uma lágrima, traiçoeira...
Ela passava por ele todos os dias, como se ele não estivesse ali. E não adiantava ele mudar o jeito de pentear o cabelo, tingir os cabelos, usar roupa nova, assoviar, atravessar na frente dela, quase trombando... nada.
Ela passava, seu passo firme, seguia em frente, sem parecer notar que ele estava ali, tentando chamar a sua atenção. E assim passaram dias, semanas, e se passaram meses... quase um ano.
O Roberto ‘nem era feio’, como costumam dizer por aí. Não
era alto e loiro, mas tinha boa altura, mais de 1,70, cabelos castanhos claros.
Olhos límpidos, de uma cor esverdeada às vezes, mas que lembrava mel, mel
escuro. Não era barrigudo, tinha até um corpo atlético, apesar da cerveja
costumeira nos finais de semana e da falta de prática esportiva. Não se vestia mal. Usava quase sempre, jeans,
camisas de malha, limpas. Gostava de tênis, mas às vezes aparecia de trajes sociais e até de bermuda e mocassins ele já se apresentara.
Os cabelos, mesmo tendo apelado para o tingimento em algumas
vezes, variando o tom, eram castanhos claros, como dito, mantidos curtos. O rosto sempre
barbeado. Sabia-se que ele tinha bom emprego, trabalhava no setor
administrativo de uma indústria de autopeças.
Ela? Linda não era exagero. Marisa tinha 1,68, de altura e
57 quilos, muito bem distribuídos. Cabelos pretos, muito pretos, ligeiramente
cacheados. Lábios grossos, olhos também pretos. Pretos de chamar a atenção, com
cílios longos, sobrancelhas bem-feitas. Pele bronzeada. Roupas de corte
perfeito, destacando seu corpo escultural. Sabia ela que chamava a atenção por
onde passava. Será que era por isso que ela não ‘via’ o Roberto? Vá saber...
Um dia ela ia no seu caminho de sempre, passos firmes e, de
repente, não mais que de repente, levou um susto. Viu onde sempre estava aquele
rapaz que tentava lhe chamar a atenção, um casal. Rapaz e moça, de mãos dadas, pareciam
apaixonados. A moça, uma moreninha uns dois quilinhos acima do peso, sardas no
rosto, olhos miúdos e alegres. ‘Baixinha’, não passava de 1,55, pensou ela. Mas
alegre, feliz, de mãos dadas com o namorado que parecia, também muito feliz.
Sim, era o Roberto. Parece que ele cansou de tentar chamar a atenção de Marisa e seguiu o seu caminho.
Marisa, se refez do susto, seguiu adiante, mas não pôde evitar uma lágrima solitária que escorreu pelo seu rosto, traiçoeira...
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